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Histórias de amor na Avenida Paulista

Estação: Paraíso

Meia hora de trânsito. Quarenta e cinco minutos. Uma hora. Avenida Paulista completamente travada, apesar dos corredores de ônibus. Qual é o problema com estes corredores? Por que deixar os taxis ocupá-los inteiros? Meu celular quase sem bateria mostra um horário preocupante.

Eu sem um tostão no bolso, com o bilhete único descarregado, e sem poder pegar a via subterrânea que era tão mais rápida. Enquanto aquele ônibus Ana Rosa andava a passos lentos, meu coração pulsava em ritmo paulistano. O tempo se esvaia bem diante dos meus olhos a cada farol vermelho.

Não aguentava mais. Desci na frente da Gazeta e corri, corri, corri – na medida do possível para quem tem o pulmão danificado de tanto respirar o venenoso ar da cidade grande. Paraíso… Paraíso… Paraíso?

Entre passos apressados, ombros esbarrados e olhares tortos, já conseguia imaginar aquele abraço que você me daria ao me encontrar na frente do metrô. Se eu conseguisse chegar a tempo. Mas tempo nunca foi o forte de nenhum paulistano.

E não foi o meu naquele momento. Você não estava mais lá e nem o meu fôlego. Paraíso? Tudo que eu recebi foi a consolação de um ombro amigo, enquanto – como todo bom paulistano já fez alguma vez na vida – voltava em prantos no transporte público.

Próxima estação: Brigadeiro

Sábado à noite combinava perfeitamente com descer a Brigadeiro cheio de expectativas e a esperança de que se manter acordado por mais horas tornasse o final de semana infinito. No meio do caminho, aquela parada de sempre no famoso “Extra da Brigadeiro”, que, religiosamente, estava sempre cheio de jovens tão jovens como nós, que naquele momento éramos o mais jovens que seríamos em uma vida inteira.

Na descida pro finado Clube Glória você me olhava de lado com aquela confiança e curiosidade e vontade de aproveitar tudo que aquela linda noite paulistana poderia reservar pra pessoas tão jovens como nós.

E foi naquela famosa sacada que você me olhou com a certeza de que nenhum tempo precisava ser desperdiçado naquela noite que duraria pra sempre, sem pensarmos que havia, ainda, duas estações pela frente.

Próxima estação: Trianon-MASP

Foi no vão do MASP que combinamos de nos encontrar depois daquele incidente, e qual lugar seria melhor que aquele? Será que existem paulistanos que nunca sentaram sozinhos neste enorme vão e sentiram a luz do sol ou da lua iluminar suas dúvidas mais profundas? Com certeza existe, mas eu sou daqueles paulistanos que enxerga a beleza até nos ônibus multicoloridos que percorrem a enorme – e ao mesmo tempo não tão grande assim – Avenida Paulista.

A vida acontecia apressada na minha frente, naquela fatídica quinta-feira, enquanto eu esperava pela sua chegada. Os artistas vendiam suas artes nas calçadas. Os jovens bebiam seus vinhos baratos. Os corporativos corriam de um canto pro outro. E eu, já impaciente, avistava seus cabelos dançando no pouco vento que fazia naquele verão insuportável.

Pairava uma melancolia disfarçada de superação entre nós, mas eu estava apenas contente de poder vê-lo depois daqueles poucos dias que pareceram infinitos. Ele sentou ao meu lado e ríamos de alguma frivolidade enquanto acendiamos mais um cigarro – apesar de termos prometido que iríamos parar.

Aquele era o verão mais quente que eu já havia vivido, mas tudo parecia tão frio. Minhas pernas suavam por cima do banco, mas minha cabeça estava nebulosa e congelada.

Decidimos comprar duas cervejas caras demais em um destes botecos da Paulista e saímos andando. Em meio a goles e goles, caminhavamos em direção à Consolação e, enquanto eu estava distraída fumando um cigarro, ele esbarrou a mão na minha. E não tirou.

Próxima estação: Consolação, acesso à linha 4 – amarela do metrô

Foi bem ao chegar na linha amarela que me vi observando as lindas e cegantes luzes paulistanas daquela avenida, palco de tantas e tantas histórias de amor.

Você tem uma linda memória por aqui? Tomando um café com alguém em uma das dezenas de Starbucks espalhadas? Segurando sua mão em um destes cinemas pretensiosos? Dando-lhe um beijo espontâneo depois de beber mais do que devia na Rua Augusta? Andando de ponta a ponta em um domingo de sol?

A minha história acaba na Consolação.

Meu vestido voava com o vento sempre forte que bate neste ponto tão alto da cidade – e tão alto do meu coração, e você estava ao meu lado com um sorriso serelepe de quem está aprendendo a cada dia a apreciar a beleza de São Paulo. Eu, que já a conheço da cabeça aos pés, aproveito pra apreciar a sua.

Paramos na Praça do Ciclista, no fim da nossa caminhada, para olhar a grandeza de tudo aquilo. Ela se torna um ótimo cenário para um ensaio fotográfico, umas risadas arrancadas e alguns pedidos por trocados. Em meio àquela linda vista, você me beijou, e eu soube que, apesar dos 3,2 km e 43 minutos de distância, eu estava no paraíso.

Ainda há quem diga que o conceito de uma “puta vista” de um paulistano é deturpada. Claramente quem diz isso nunca viveu um grande amor na Avenida Paulista.

Fim. <3

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Obrigada por ser o meu final feliz, Rafa Roller.

Atualizado em 02/2021
Foto de Monique Carrati em Unsplash

Sobre o autor

Canceriana, feminista, redatora, baterista e fotógrafa de celular. Paulistana nascida e criada que não perde uma festa de rua e até hoje fica impressionada com a beleza da cidade.

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