Ela é paulista, ela é negra ela é Drag Queen

O Brasil é um dos pais que mais mata por homofobia. Em 2016 batemos o recorde de mortes, a cada 25h um LGBT é morto. Em São Paulo o cenário não muda muito, mas ainda há esperanças. A cidade acolhe e recebe diversas tribos e cores ao mesmo tempo que condena e julga.

Não é de se espantar que quando se é reconhecido e elogiado na rua por um estranho fica difícil de segurar as lágrimas, ao menos é preciso para não estragar a sua maquiagem para mais uma noite de trabalho. Não, trabalhar na noite não se resume apenas à prostituição no mundo LGBT, temos artistas, performers, atores, dançarinos e cantores, temos drag queens.

Thereza é uma delas. E neste sábado, como em vários outros, mais uma vez teve que sair de casa quase que escondida, cabisbaixa, com um capuz para esconder as horas de trabalho em sua maquiagem que lhe trouxe traços belos e femininos. Ela tem medo do que pode lhe acontecer caso alguém a note. “Vale a pena passar por esse medinho na quebrada?”, se pergunta várias vezes.

Sua meta é encontrar algum lugar segura paro completar seu look, que carrega na mochila com toco cuidado. Peruca, figurino, botas, e mais maquiagem para dar aquele retoque antes do show. Ela se apresenta em festas e baladas, dubla, dança, seu papel é entreter as pessoa com a sua arte. Sim drag é arte. Uma arte que exige muita coragem para se exercer. Não é como Picasso, Michelangelo, Beethoven ou Bach.

Mas este dia foi diferente, ela foi reconhecida, foi observada. Seu trajeto foi interrompido por uma abordagem inesperada. Em sua condução para o trabalho Thereza foi tocada no ombro por uma mulher, que ao invés de a atacar lhe ofereceu um sorriso e um bilhete. A moça poderia ser apenas mais um olhar torto, mais um rosto virado, mais um julgamento, isso quase a não afeta mais, porém a mulher foi amor, carinho e reconhecimento no bilhete que dizia “Sua make está maravilhosa demais para estar escondida. Jesus te ama de qualquer forma”.


Aquele sábado poderia ser apenas mais um dia na vida de Thereza, drag queen paulista e negra. Mas foi o dia que ela se sentia amada, não apenas pelos seus fãs, mas pelo seu próximo. Na imagem ela se desculpa pela cara, pois estava tentando segurar o choro.

Sobre o autor

Paulista da gema, jornalista formado pela UMESP que atua como assessor de imprensa. Amo a vida na cidade grande, mas também gosta da tranquilidade do campo. Cinéfilo, geek, amante de livros e das coisas que a natureza dá.

[fbcomments url="https://www.sobrevivaemsaopaulo.com.br/2017/05/ela-e-paulista-ela-e-negra-ela-e-drag-queen/" width="100%" count="off" num="5"]