O mistério das bolas de gude de São Paulo

O mistério das bolas de gude – Histórias de humanos quase invisíveis é um livro reportagem do jornalista Gilberto Dimenstein, que também foi colunista da Folha de São Paulo, comentarista na Rádio CBN e criador do portal Catraca Livre.

Resolvi fazer uma publicação sobre o livro porque o li na última semana e notei que minhas percepções sobre São Paulo (apesar de alguns trechos se passarem em outros lugares, a maioria das histórias são paulistanas) mudaram depois de ler sobre como eram alguns dos principais pontos da cidade em décadas passadas.

Por se tratar de um livro reportagem, o livro conta a história de personagens reais com uma característica em comum: o desejo por fazer algo significativo, driblar a desesperança e serem vistos pela sociedade.

Dimenstein nos faz revisitar alguns lugares conhecidos, com um olhar diferente, como se quisesse nos mostrar o lado B da Vila Madalena, do Largo São Francisco, da Praça Roosevelt e da Avenida Paulista, por exemplo.

Através das histórias, nos damos conta de que existe um ser humano dentro de uma garota de programa, de um imigrante italiano que se tornou uma espécie de ladrão com ideais anarquistas (e era a maior celebridade do submundo paulistano no século 20), de um motoboy ou de um dono de boteco qualquer.

Além de tudo, a leitura nos faz refletir sobre nossas concepções sobre a sociedade e as pessoas marginalizadas.

 

Confiram um trecho do prefácio do autor:

 

 

Em 1995, fui para Nova York e tornei-me acadêmico- visitante da Universidade de Colúmbia (muito mais visitante do que acadêmico, devo confessar), interessado em educação para a cidadania. Assisti a uma cidade se revitalizar, porque, entre outras coisas, seus habitantes enfrentavam a invisibilidade de crianças, jovens
e suas famílias. Isso contribuiu para que eles conseguissem reduzir, de maneira surpreendente, os índices de criminalidade. Três anos depois, voltei para São Paulo, que, ao contrário da euforia nova-iorquina, estava em estado de depressão: nunca tanta gente, em toda a sua história, morria assassinada ou era sequestrada, refletindo a crise metropolitana brasileira. Mas se processava, quase clandestinamente, uma resistência, cujos resultados ficariam mais nítidos na virada do século: pela primeira vez no país, seria possível contabilizar uma redução tão expressiva no número de assassinatos. O esforço de retomada resultava, na maioria das vezes, da ação de cidadãos comuns, anônimos, em escolas, favelas, delegacias, centros de saúde, associações de bairro ou de rua, organizações não-governamentais. Tal esforço brotava até numa praça em que alguém plantasse uma árvore ou num beco degradado embelezado por um grafiteiro. Não se obedeciam a ordens de comando geral. Não existiam sede, manifesto, partido ou ideologia, mas o instinto de sobrevivência.

É a mais interessante novidade neste início de século sobre São Paulo – uma comunidade sitiada, acuada, empreendendo uma guerra de guerrilha contra o medo. Assim como, no final dos anos 90, a mobilização contra a violência foi uma das mais interessantes novidades a ser contada sobre Nova York. Por isso, neste livro, São Paulo e Nova York, metrópoles marcadas pela diversidade e onde morei nos últimos 11 anos, transformaram-se quase numa única cidade.

A resistência paulistana foi o que me levou a fazer uma volta no tempo e a reler e reescrever artigos, reportagens, anotações pessoais, diários de viagem e trechos de livros como “A guerra dos meninos e meninas da noite”, ordenados agora num único texto.

Sobre o autor

Gabriela, 23 anos, devoradora de livros e futura jornalista.

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