Uma cidade como São Paulo é capaz de revelar grandes surpresas a cada esquina e reencontros inesperados. No ponto de ônibus de sempre para um percurso rotineiro, eis que surge uma memória afetiva, uma pessoa, aquela pessoa. Foi como ver um filme que gostava muito, uma foto que era um quadro na minha casa, que vive ali, e só ali, na memória. Ninguém especial hoje, mas que algum dia já foi importante, ali perto da Avenida Ipiranga com a São João, será que essa é uma coisa do coração. Acaso, fatalidade, saudade ou vaidade. Não sei, só sei que acontece.
Vejo muitas pessoas diariamente, qual a probabilidade de ver pessoas novas todos os dias, ainda mais em São Paulo, de certo as chances são bem maiores do que reencontrar aquela velha pessoa importante na sua vida em algum momento. Um amigo, um ex-amor, um companheiro de bebedeira. Alguns, grandes parceiros, por fases e fases, outros, só por um dia, noite, horas. Gente que importou, ou importa. Guardadas devidas proporções claro, e níveis de choro, não se chora tanto por um amigo, ou lembrança de um momento, já por amor… Mas a perda de amigos se não incomoda tanto, gera frustração maior.
Aquele dia eu vi alguém do meu passado, que me olhou, me cumprimentou com os olhos e pronto. Só isso. Depois de me revelar seus maiores segredos na adolescência, conhecer minha família toda e até dividir pizzas, moedas e pinguinhas, ter momentos memoráveis como: a primeira balada, o primeiro futebol, a conversa de madrugada, o rolê perdido, o primeiro emprego, a valsa de debutante, o sorriso triste, o choro puro, me tratou com a frieza de quem vai ao médico, um bem ruim, dermatologista ou dentista. Nós éramos um clube secreto, por vezes contávamos com mais pessoas, outro mundo, que nunca pensava que teria fim. Mas teve, e o pior, não sei o motivo. Nenhuma briga, nada. Nos amores normalmente os rompimentos são com brigas e rupturas duras. Mas com amizades… Não consigo nem me lembrar, quando foi que nos falamos pela ultima vez, será que foi por futebol, por cerveja, por paqueras, sei lá.
Pensei em puxar conversa, mas falar sobre o que? Nem sei do que ele fala mais, certamente, não poderemos discutir a escalação da seleção brasileira de 2006, nem sobre os piores professores da escola, religião e política é melhor evitar, assunto chato de adulto, a gente gostava mesmo era da zoeira, vou mandar algum chavão: “como é que anda”, “vamos marcar alguma coisa” ou “tá sumido”. Mas isso sim é assumir o fracasso da amizade.
Será que mudei muito? Será que meus amigos mudaram muito? Será que aquela conversa que me tocou e aqueles conselhos que até me motivaram a mudar, não valeram de nada?
Amigo é coisa para se guardar, diz o poeta Milton, será que me escaparam pela direita, o que foi que fiz, ou não fiz, encontrar uma pessoa importante, aquele que confidenciei coisas incríveis, troquei figurinhas e que ensinei e aprendi, só levantar os olhos em minha direção e seguir caminhando. Será que não ficou curioso em saber como eu estava. Será que se lembra do meu nome?
Bom, poderia ser pior, poderia ter abaixado à cabeça e fingido não me ver.
Gostaria que algumas pessoas lessem isso aqui.