“Mágica”. Esse é o adjetivo que define a noite de 13/10/16 para os fãs de música jamaicana em São Paulo. Aquela quinta-feira marcou a realização de um sonho pra muita gente que curte a sonoridade típica da ilha caribenha, pois um de seus principais representantes desembarcava na capital paulista para, após mais de 50 anos de história, tocar pela 1ª vez em terras tupiniquins. Toots & The Maytals foi um dos protagonistas de uma época de ouro para a música jamaicana, e por isso arrebanhou uma legião de fãs ao redor do mundo.
Formado no começo dos anos 60 por Toots Hibbert, Raleigh Gordon e Jerry Matthias, o grupo foi pioneiro do ska e colecionou inúmeros sucessos ao longo de sua trajetória, tornando-se assim o grande nome que é. Hoje, Toots não conta mais com a companhia de Raleigh e Jerry, mas ainda carrega mundo afora o nome original do grupo.
Anunciada em julho, a visita de Toots ao Brasil causou ansiedade desde então. A procura por ingressos foi grande, e não demorou muito para que todos fossem vendidos.
Quando chegou o grande dia do show, caía uma chuva bem chata em algumas partes de São Paulo, incluindo os arredores do Cine Joia, o lugar escolhido para a apresentação. Mas é claro que isso não inibiu os fãs, que começavam a chegar ao local horas antes para encontrar os amigos e tomar aquela cerveja marota antes de entrar na casa.
O horário previsto para a abertura do Cine Joia ao público era 20h, e o coletivo Jamboree, dos DJs Jurássico e Greg Fernandes, velhos conhecidos da cena jamaicana em São Paulo, eram os responsáveis por fazer o aquecimento para o show, tocando o melhor da música jamaicana dos anos 60.
Quando entrei no Cine Joia, a casa ainda estava vazia, mas foi lotando conforme a hora prevista para a subida de Toots ao palco (22h30) se aproximava. A galera dentro da casa segurava a ansiedade conversando, bebendo cerveja e dançando ao som dos DJs da Jamboree.
Mas aí deu 22h30 no relógio, e nada de Toots… 22h45, e ainda nem sinal do cara… Quando eis que, depois das 23h, com mais de meia hora de atraso, sobe ao palco uma simpática cantora e alguns músicos. Eles tocaram duas músicas, e a guria até que mostrou talento pra cantar. Ao final da apresentação, ela tomou o lugar do backing vocal no palco. Então, finalmente, apareceu Toots, o grande astro da noite. O jamaicano saudou a todos e apresentou a cantora que o sucedeu: Leba, sua filha.
Esbanjando alegria e tecendo palavras de amor ao Brasil, aquele distinto senhor de 73 anos que acabara de subir ao palco arrancou suspiros e sorrisos de felicidade do público do Cine Joia, já lotado. Então, o cara começou a destilar seus sucessos, e foi hit atrás de hit: “Pressure Drop”, “Never Grow Old”, “Pomp and Pride”, “Take Me Home Country Roads”, “Sweet and Dandy”, “Bam Bam”, “Louie Louie” e “Monkey Man” foram alguns deles. Toots falava pouco e cantava muito, mostrando a todos a voz marcante que o consagrou como lenda da música jamaicana. A banda de apoio, composta por 7 integrantes (incluindo Leba Hibbert e outra backing vocal), também não deixava a desejar, e tocou de forma magistral. No meio do show, uma fã subiu ao palco, deu dois abraços em Toots e pediu para ele autografar duas bandeiras da Jamaica que ela havia levado.
A saideira da noite, depois que Toots voltou para o “bis”, foi “54-46 Was My Number”, levando a galera à loucura. Ao final, quando Toots e a banda se retiravam do palco, foi possível ver a cara de encantamento do público. Porém, houve um ponto a se lamentar: algumas pessoas saíram do Cine Joia antes da apresentação acabar, para não perderem acesso ao transporte público. Isso se deu devido ao atraso considerável que a apresentação teve. Fica aí uma crítica à organização do evento, que durou até as primeiras horas da madrugada.
Apesar do “desprazer” que foi o atraso do show, dá pra afirmar sem dúvidas que a noite daquela quinta-feira não apenas será sempre lembrada, mas marcou a vida de muita gente. Muito marmanjo se emocionou, dançou e virou criança por algumas horas. Afinal, não é todo dia que se pode ver uma lenda da música tocar a alguns metros de distância. Vida longa a Toots & the Maytals. Vida longa à música jamaicana.