Saudades da Cidade Grande
Saudades: um dos maiores legados de cidade grande. Ouso a dizer que é maior que o legado das filas em São Paulo.
Passei alguns dias no interior e achei muito louco isso de sentir vontade de ver alguém e simplesmente ir à casa da pessoa. Sem nenhum telefonema ou mensagem no whats antes. Aqui na cidade grande, para falar com alguém e ir até a casa dela sem dar de cara com a porta, são necessários 3 meses de antecedência, 20 ligações, 200 mensagens no whats e dois sinais de fumaça. Para chegar na última hora e alguma reunião, algum trânsito ou até mesmo alguma procrastinação atrasar a coisa toda.
Se encontrar em São Paulo é horrível.
Temos que aprender na marra e na dor que os mais chegados serão aqueles do trabalho ou da sala de aula. Que se trocar de sala não será a mesma coisa. Que se trocar de escola/faculdade, corre o risco de a amizade acabar. Mas não por falta de vontade de ambas as partes. É que as reuniões, trânsito e todo o esforço para pegar o ônibus, o metrô e ainda fazer uma baldeação, para gastar o pouco dinheiro em um bar caro acabam com tudo isso.
Amo a tecnologia e não vivo sem, mas relações tendem a não durar muito somente nelas – ou só as minhas mesmo, não sei.
Ainda preciso da visita na casa e saber do que está acontecendo. De olhar no olho para saber se o “to bem tbm” é verdadeiro.
Nos domingos à noite me vem a louca vontade de catar todas as coisas e correr em direção ao interior. Só pra poder chegar à casa de alguém e saber que não irei atrapalhar. E passar o dia lá. Não ter essa coisa de ficar uma hora e tchau porque a pessoa já tem um bar, um encontro, um shopping ou qualquer outra coisa pra ir.
Abri uma foto da época do ensino médio e procurei lá alguém que eu ainda tivesse contato e pudesse manda lá. Não mandei pra ninguém. O desgaste que acontece em relacionamentos a distância não nos manteve unidos. Está cada um no seu canto. Cada um postando foto com seus novos amigos.
Não sei até onde permanecerão na minha vida as pessoas que eu posto foto hoje em dia. Até que ponto o fim da faculdade, a idade e o trabalho como repórteres – sim, nós seremos – nos permitirá que toda sexta tenha bar.
No mais, seguirei brindando com os que lutam para que, ao menos uma vez no mês, tenham encontros. Nem que seja um esbarrão no centro. Sigo agradecendo àqueles que chamam no whats todo dia e por mais que não seja o olho no olho, perguntam se realmente estamos bem. No mais, vou torcendo que o mundo seja realmente pequeno e me coloque de volta na vida de algumas pessoas. No mais, vou lutando contra a cidade e fazendo ser verdadeiro o sentido de amizade.
Atualizado em 02/2021
Foto por Mariana Fernandes em Unsplash