O Sesc Pinheiros recebeu o filosofo e teólogo Leonardo Boff no encerramento da Campanha de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa- 2015. De modo intimista o expositor realizou a conferencia Cuidado: Maneira amorosa de se relacionar com os outros.
O evento despertou a minha atenção para uma realidade, nas próximas décadas o número de idosos irá dobrar na cidade de São Paulo. Em 2027 a capital terá mais idosos do que jovens.
Após realizar em 2014 uma reportagem sobre desaposentação, o drama dos trabalhadores que se aposentaram e continuaram trabalhando e contribuindo ao INSS, fiquei mais atenta a questão. É expressivo o número de desaposentados.Mas como o mercado de trabalho cheio de novas tecnologias reage frente a estes idosos ativos?Equilibrar o conflito entre as gerações extraindo o que cada uma tem a oferecer é um desafio.
No mês de junho conheci no evento Vidas que Impactam a história da conferencista Sandra Guilherme que aos 64 anos descobriu uma nova mulher, através de experiências internacionais. Divorciada, aposentada e autodidata a pastora protestante se reinventou e hoje desenvolve a auto-estima de centenas de pessoas que perderam a vontade de viver. O antagônico é que o publico de Sandra Guilherme é em sua maioria jovem.
Ambos os exemplos, Sandra Guilherme e Leonardo Boff, me levam à reflexão de como as igrejas evangélica e católica lidam com a terceira idade. Considerando que os brasileiros vão mais à igrejas do que outros ambientes culturais, ganhando inclusive de cinemas e teatros. Enquanto formadora de opinião é importante que avaliemos as referencias que a religião deixa a milhares de jovens que compõem a grande massa de fiéis. Será que o brasileiro conhecido por sua religiosidade, considerado cordial é capaz de respeitar o idoso? Não é o que vemos, pelo menos no transporte público, embora a placa sinalize os assentos preferenciais é comum vermos jovens fingindo dormir para não dar lugar a quem é de direito. Não responsabilizo a igreja por isso , ao contrário , mas fiquemos atentos para que a ética cristã seja praticada, são inúmeros os versículos que incentivam o cuidado com os mais velhos. Ao ter líderes idosos a religião, na contramão dos estereótipos da nossa sociedade, mostra que há beleza na velhice. Apenas como provocação quero deixar um trecho da palestra do ex-Frei Leonardo Boff, ele foi surpreendido com a seguinte interrogação: – É possível ter fé e ser inteligente? (Versão adaptada). Não tive coragem de falar para a platéia imensa do Sesc Pinheiros ,mas valorizar o idoso me parece uma demonstração de inteligência dos que creem. Gostaria de ter a oportunidade de conhecer o ponto de vista de outras religiões, sabemos que a diversidade religiosa é grande neste país que se diz laico.
Alguns relatos me deixam chocada, cenas de violência contra o idoso. Fora os manipuladores que tentam usurpar heranças e aposentadorias aproveitando a vulnerabilidade destes senhores. Golpes criativos e inescrupulosos. A não compreensão dos novos formatos da sociedade também me assusta. Pessoas que acham que os idosos devem jogar baralho , assim como a mulher tem que ficar na cozinha , o negro na periferia e o homossexual no armário. Comumente no horário de pico ouço exclamações do tipo: – Para que este velho saiu de casa este horário? Só para atrapalhar a nossa vida. Esquecendo que o idoso, a mulher, o negro, o homossexual são livres para ir e vir quando, onde e como quiserem. Se opinarem pelo baralho, pelos cuidados domésticos, pela vida na comunidade ou pela negação da sua identidade sexual não há demérito nisto, porém não podemos impor estas posições como única opção de vida a ninguém. Quase parafraseei a Pitty .
Ao iniciar este texto tinha a intenção de divulgar a programação para idosos em São Paulo, mas achei um pouco tendencioso e limitante dizer que existe uma agenda especial para eles. Enquanto negro não gosto quando sugerem a mim os lugares que devo frequentar como se eu vivesse no apartheid ou enquanto mulher por questões de gênero me dizem o que devo consumir, piorou enquanto jovem quando começam a ditar o meu comportamento .Alguém pode me ajudar nesta questão?
Clarice Tatyer é repórter, assessora de imprensa, locutora e apresentadora. Descobriu no jornalismo um meio de entender outras culturas e torná-las entendíveis e comuns á todos. Atualmente faz reportagem para a TV Cidadania, apresenta o programa Chá de Mulheres, assessora dois clientes em São Paulo e colabora para alguns sites e blogs.