Todo paulistano chora no metrô. Cedo ou tarde isso vai acontecer com você. Alguém pode sempre morrer, você pode terminar um relacionamento ou ficar deprimido sem nenhum motivo – não importa, uma hora você vai chorar no metrô.
Isso acontece porque em uma cidade como São Paulo, se é que existe alguma parecida, tudo o que vivemos é público. Se você estiver entusiasmado, horrorizado, magoado, desanimado… É como viver em gigantesco aquário. Comumente me sinto como um animal de zoológico, comendo, dormindo, bebendo para o deleite de um audiência faminta por sofrimento alheio.
Todos os dias temos lágrimas no transporte público. Da perspectiva de uma formiga – influenciado pelo lançamento do dia, “O Homem Formiga” – rios de tristeza fluem pelo chão. Marcas de abandonos, perdas, falhas e frustrações. Porém, o ser humano não é uma formiga e, da perspectiva dele, lágrimas são lágrimas.
Alguns tentam entender e consolar, e esses eu odeio verdadeiramente. Não sofremos em público porque escolhemos. Ninguém planeja se expor dessa forma. Nós simplesmente não temos opção. Se eu pudesse escolher, prometo que receberia o “fora” em casa, ou então meu parente esperaria até que eu estivesse no conforto do meu lar para simplesmente falecer. Mas não escolhemos nada disso. Então, por favor, finge que nada está acontecendo, deixe-me fingir que estou sozinho. Em um dia normal você não falaria comigo, então por que fazê-lo hoje?
Nesse momentos só queremos chegar logo em casa. Choramos o caminho inteiro e nem ligamos para quem está ao redor. Em casa, vamos sofrer no nosso próprio espaço, um que está diminuindo cada vez mais na sociedade atual. A internet invade sua casa, o som invade sua casa, visitas, membros da família, todos decidem aparecer quando você está pior.
Estou lutando um pouco por isso. Falta espaço na cidade e não é para a construção de shopping ou prédio, falta um espaço bem pequeno onde podemos sofrer em paz, chorar nossas mágoas, erguer a cabeça e seguir em frente.
Ps: Juro que estou bem, o texto é sobre o direito das pessoas de se sentir mal e a falta de espaço pessoal. Mas repito: estou bem!
Atualizado em 03/2021
Foto por Marcelo Marques em Unsplash