Texto de Priscilla Millan
Essa frase dita por Elomar Figueira Mello resume sua obra. Para quem quer conhecer e se sentir em um ambiente sertanejo e no clima de natureza é só entrar no Itaú Cultural na Paulista e deparar-se com a vida e obra deste artista. O cantor recluso e reservado à entrevistas ganha homenagem em São Paulo, terra que o recebeu e gerou grande apreço nele.
Quando você entra no local, ao dar de cara com telões com figuras de carneiros, a ideia é relembrar ao público a fazenda do cantor, A Casa dos Carneiros, em Vitória da Conquista, Bahia. O ambiente é retratado com objetos, adereços, equipamentos de decoração e do sertão nordestino com todas as suas peripécias. Ali há também a parte da poesia, romance e peças de teatro do músico nordestino, que faz da arte seu ganha pão e sua vida.
Elomar tem um jeito todo seu de se expressar em suas canções. Nelas, a forma de falar é um sertanez, como ele próprio define: “Todo texto meu que se refere a discurso de vaqueiro, de retirante, de camponês ou de habitante do sertão versa em sertanez”. A ideia é trazer os dialetos de povo caipira e o universo do sertão nas músicas, e com isso, fazer com que o ouvinte consiga ver e sentir o mesmo que o músico expressa nas melodias.
Entre as músicas que fazem parte de seu repertório estão disponíveis na mostra para audição, em toca-discos de vinil algumas como por exemplo: A Meu Deus Um Canto Novo, Campo Branco, Clariô, Chula no Terreiro, O Pedido, Cantiga do Estradar, Cantiga de Amigo e Arrumação. Há vídeos cassetes também com alguns projetos arquitetônicos que o artista fez quando mais novo.
Além disso, cartas, documentos, poesias, gravuras, vídeos e livros estão presentes. “Estamos trabalhando com a Casa dos Carneiros e sobre o seu acervo há cerca de dois anos. O Banco Itaú tem patrocinado a organização deste arquivo e a construção do espaço que o abrigará. Foi a partir desta parceria que o Itaú Cultural propôs a Elomar a realização desta Ocupação, com o mesmo espírito de toda a série destas mostras, que é levar ao público o processo de criação da obra e a vida de artistas que são referência na arte e cultura brasileiras”, conta Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural.
Hoje Elomar vive em sua fazenda na Bahia. Com 16 discos na carreira ele raramente sai de seu refúgio. Neste mês, graças a três concertos no Auditório do Ibirapuera e a abertura da exposição, ele veio à São Paulo. A exposição Ocupação Elomar faz parte da 25° mostra da série Ocupação do Itaú Cultural e começou no dia 18 desse mês. Tem entrada franca. De terça à sexta o espaço fica aberto das 9 horas às 8 da noite. Aos sábados, domingos e feriados, o espaço abre um pouco mais tarde, às 11 da manhã. Quem não aproveitou ainda, tem até o dia 23 de agosto para conferir.
Aqui, um exemplo da sua poesia doce e formosa, na qual ele prefere usar para se descrever ao invés de tirar fotos com poses e pompas.
Meu Retrato
Eu já nasci pronto, um poeta puro
Que me desculpem aqueles que não o são
Às vezes anjo mais pra pecador
Fera indomada estando com a razão
Mais dado ao riso bem pouco ao furor
Não sou de pegar a coisa que cai
Chutando-a a um canto alguém depois que o faça
Confesso mĩa ogeriza asco horror
Aos poderosos ao homem violento
Ao mentiroso e à estupidez da massa
Conhecedor de Física e Matemáticas
Esculhambo com prazer toda a ciência
Que mente e trapaceia em toda a existência
E a serviço dos maus põe suas práticas
Pra terminar esta triste figura
Com uãs pinceladas mais em branco e preto
Sem coloridos e em tosca moldura
Aqui deixo esboçado meu retrato
Priscilla Millan Sou uma estudante de jornalismo que escolheu a profissão para conhecer histórias e tocar o coração das pessoas. Além de informar, gosto de escrever, de forma sutil, leve e desconcertante. Gosto da magia das palavras, de seu cheiro e de seus rastros. Gosto de atitudes, mas que por trás delas, haja belas palavras que eternizam cada momento.