Enquanto todo mundo comemorava o sol, a praia e alegria, São Paulo preferia um dia nublado, chuvinha fina e uma tarde produtiva. São Paulo é a ovelha negra da família. Como reclama essa filha ingrata da pátria amada. Único povo que se orgulha por ser da “Terra da Garoa”. Garoa é uma coisa chata, nem chuva que dá sono e nem secura que esgota. O único povo que consegue conviver com um tempinho tão abestado é o paulistano.
Faz parte da gente, especialmente os de alma paulistana, viver sob a observação contínua do céu nublado. Reclamamos sempre que chove demais, também do calor escaldante e nem comece a falar sobre frio de rachar. Aliás, eu mesmo, como um bom jovem paulistano, reclamo de todos os climas possíveis da cidade, mas tenho um apego inexplicável com a fina garoa. Ela me encanta. Fazia tempo que São Paulo não deixava garoar. “É o aquecimento global”, o senhor da banca de jornais me disse um dia desses. (Ele me disse outras coisas também, mas as guardarei para outros textos, especialmente alguns que planejo sobre machismo na cidade).
Dias como os de hoje me lembram do nascimento da cidade. Sempre penso naqueles primeiros imigrantes, corajosos procurando uma vida melhor, vítimas de vidas difíceis, mas esperançosos de que aqui poderiam criar algo valoroso. Penso nos bons anos 60 e em como era incrível a cidade das oportunidades. A grande maçã brasileira? Não, acho melhor não ficar com essas comparações bobas com os norte-americanos. Já me basta a mania de falar “Oscar brasileiro”. Mas São Paulo e seu céu choroso sempre foi a imagem das chances de crescimento, do futuro brilhante que nos aguarda. Quem andou pela Sé 40 anos atrás viveu sob a mesma garoa que veio sobre todos nós nessa quinta-feira.
Hoje a cidade já é um pouco mais madura, os paulistanos estão mais calejados e as oportunidades estão sendo divididas em um pouco mais de 20 milhões de pessoas. Mas ainda somos esperançosos, sonhamos com o melhor para a nossa cidade e o nosso futuro. Não perdemos o nosso troféu mais antigo, que é o direito de ser ranzinza. Depois de 8 à 12 horas de trabalho duro, o paulistano merece reclamar de tudo o que quiser. Alguns confundem a chatice com pessimismo, mas no fundo tudo o que queremos é o melhor para a mamãe Dil… Ops, Brasil.
Garoa linda que representa tanto, sempre que quiser é só aparecer, tá? Fique à vontade em São Paulo, sinta-se em casa por aqui. O único povo que agradece sua visita somos nós, porque você é tão parecida com a gente: chata, incômoda e insistente, mas bonita, renovadora e abençoada.
Leonardo Sapucaia é romântico quando fala sobre São Paulo e tem a imparcialidade de um torcedor de futebol. Como Pedro Bial costumava dizer…. Se eu pudesse te dar apenas um conselho seria: Tomem banho de garoa.