Um dia ficou bravo porque queria atenção, de quem quer que fosse.
Não conseguiu.
No outro, estava de cabeça cheia e não conseguia falar com mais ninguém, sabendo que qualquer palavra atingiria o interlocutor como um punho fechado em um maxilar desprevenido. Pensou. Pensou mais.
A única ideia que veio à mente era idiota e quase inútil.
Decidiu criar uma conta em uma rede social de poucos caracteres. Não acreditava que conseguiria se ouvido, ou entendido, por ninguém em tão poucas palavras. Mesmo assim, sentiu que deveria tentar. Mas então teve medo. Estaria ele compartilhando demais de seu eu particular? Para quem iria falar? Quem ia querer ouvi-lo?
“Melhor não adicionar nenhum conhecido”
“Mas como vão saber quem sou eu?”
E foi então que descobriu que poderia ser outra pessoa, afinal, quem saberia a verdade? Então, indeciso entre duas opções que poderiam complicar ou resolver sua vida/impasse, selecionou um botão na tela e guardou o aparelho celular no bolso ao ver o aviso:
✔ Sua conta foi excluída com sucesso!
E decidiu por ser ele mesmo. Tentando mudar o mundo através de seus textos. Através de seus pequenos atos. Pisar no cigarro que alguém jogou na rua ainda aceso. Ajudar o idoso a atravessar na Alameda Santos. Oferecer uma bolacha para um mendigo. Comprar um quadro de um artista de rua. Etecetera, etecetera.
Foto: BlueBus