Corre, empurra, corre

Corre, empurra, corre

Todos os dias faço o trajeto da CPTM Guaianazes-Luz, e todos os dias me pergunto quando foi que aquilo se tornou normal. Quando foi que acostumamos a estar amontoados uns aos outros, a correr para sentar, a empurrar ou ser empurrado e até mesmo machucar.  Quando foi que virou hábito?

“Desde que me conheço por gente é assim” ouço muitas pessoas dizerem isso. E eu também digo. Mas por que não estranhamos desde a primeira vez? Por que não reclamamos a primeira vez? Por que deixamos se tornar normal?

O ser humano se adapta tanto que até quem não empurra, depois de alguns anos de uso, começa a empurrar. Empurra para não chegar atrasado, empurra porque quer ir para casa descansar, empurra porque tem pressa, ou empurra por empurrar. E você acostuma a ponto, que mesmo com o trem vazio você corre e empurra sem precisar.

E então vem as brigas, de quem empurrou quem, de quem coloca o peso em quem durante a viagem, e até de assédio. Mas há também quem se divirta no corre-corre e ria porque conseguiu se sentar.E que alegria é sentar no transporte público em São Paulo! Coisa rara. Como dizem, “É para os fortes”.

O restante fica de pé, e no dia seguinte corre, empurra e tenta  sentar de novo.

Atualizado em 03/2021
Foto por Rafael De Nadai em Unsplash

Sobre o autor

Jornalista, trabalha com assessoria e comunicação. É crítica e curiosa por natureza. Gosta de escrever sobre o que ainda não sabe, aprender sobre o que não gosta e leituras não obrigatórias. Não cultiva amigos nem inimigos, cultiva fontes. Considera a vida uma resenha não terminada.

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