Corre, empurra, corre
Todos os dias faço o trajeto da CPTM Guaianazes-Luz, e todos os dias me pergunto quando foi que aquilo se tornou normal. Quando foi que acostumamos a estar amontoados uns aos outros, a correr para sentar, a empurrar ou ser empurrado e até mesmo machucar. Quando foi que virou hábito?
“Desde que me conheço por gente é assim” ouço muitas pessoas dizerem isso. E eu também digo. Mas por que não estranhamos desde a primeira vez? Por que não reclamamos a primeira vez? Por que deixamos se tornar normal?
O ser humano se adapta tanto que até quem não empurra, depois de alguns anos de uso, começa a empurrar. Empurra para não chegar atrasado, empurra porque quer ir para casa descansar, empurra porque tem pressa, ou empurra por empurrar. E você acostuma a ponto, que mesmo com o trem vazio você corre e empurra sem precisar.
E então vem as brigas, de quem empurrou quem, de quem coloca o peso em quem durante a viagem, e até de assédio. Mas há também quem se divirta no corre-corre e ria porque conseguiu se sentar.E que alegria é sentar no transporte público em São Paulo! Coisa rara. Como dizem, “É para os fortes”.
O restante fica de pé, e no dia seguinte corre, empurra e tenta sentar de novo.
Atualizado em 03/2021
Foto por Rafael De Nadai em Unsplash